Camarões são pequenos gigantes da biodiversidade amazônica
07 de julho de 2025 | Tempo de leitura: 6 minutos
Por Miani Corrêa Quaresma e Jussara Moretto Martinelli Lemos
Você sabia que os camarões, além de deliciosos, são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos? No estado do Pará, coração da Amazônia Oriental, realizamos um estudo que revelou uma incrível diversidade desses crustáceos. Nossa pesquisa reuniu informações sobre a diversidade de camarões que habitam ambientes marinhos, estuarinos e de água doce nessa região. Identificamos 81 espécies de camarões, distribuídas em 17 famílias.
No Pará, as famílias Palaemonidae (com 27 espécies) e Penaeidae (com 12 espécies) se destacam, sendo amplamente estudadas dada sua importância ecológica e econômica. Essa importância é advinda tanto nos processos tróficos, como predadores que regulam a estrutura de comunidades aquáticas; como na economia, devido ao seu elevado valor comercial.

Camarões das famílias Palaemonidae (representado pela espécie Macrobrachium acanthurus) e Penaeidae (representado pela espécie Xiphopenaeus kroyeri). Fonte: Lianos e colaboradores (2018) e Pereira (2023).
Como resultado, concluímos que a maioria dos camarões que habitam a Amazônia paraense possui um ciclo de vida ligado ao mar, visto que esses camarões migram para ambientes aquáticos com salinidade elevada, como estuários, manguezais e zona costeira, o que torna relevante a preservação desses ecossistemas. Essa relação dos camarões com a água salobra decorre do fato de muitas espécies viverem e se reproduzirem nesse tipo de ambiente, tornando esses ecossistemas aquáticos essenciais para a alimentação, o crescimento e a proteção contra predadores, pois oferecem esconderijos naturais e abrigo para os camarões jovens, reduzindo a predação por peixes e outras espécies.

Pesca de camarão no estado do Pará. Foto: Miani Quaresma.
Os camarões mais abundantes, com destaque para Palaemonidae e Penaeidae, estão listados no “Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação 2010-2014”, publicação que atribui a cada espécie uma categoria de risco de extinção. A inclusão dessas espécies no Livro Vermelho auxilia estudos e políticas públicas voltadas ao manejo adequado desses crustáceos que são utilizados para fins econômicos e que habitam as águas amazônicas.
Destacamos, ainda, que a singularidade de espécies de crustáceos que habitam a Amazônia paraense é acentuada quando analisada junto à biodiversidade brasileira. No Brasil há 2,5 mil espécies de crustáceos registradas, de uma biodiversidade total aproximada de 68 mil. Dessa forma, ao se olhar somente a biodiversidade de táxons (que englobam diferentes espécies) de camarões que a Amazônia paraense abriga representa aproximadamente 3,2% da diversidade em relação a biodiversidade total de crustáceos, que habitam a extensa costa e bacias brasileiras.
Essa singularidade é advinda da fauna paraense e sua diversidade de habitats – desde as águas salobras dos estuários até os vastos rios amazônicos a qual criam ambientes únicos para uma rica variedade de camarões. Espécies como o camarão-da-Amazônia (Macrobrachium amazonicum), um dos crustáceos de água doce mais conhecidos, têm importância tanto ecológica quanto comercial, sustentando comunidades tradicionais que dependem da pesca artesanal.

Ecossistemas costeiros, estado do Pará. Foto: Jussara Moretto Martinelli Lemos
Destacamos que as pesquisas sobre a história de vida das espécies presentes no estado do Pará são ainda insuficientes para compreender como esses crustáceos habitam a Amazônia e os ecossistemas tropicais. A maior parte dos estudos concentra-se em espécies de maior porte e com valor comercial, como o camarão-da-Amazônia. Há uma carência de pesquisas voltadas para as fases iniciais do ciclo de vida dos camarões em ambientes naturais, bem como para aqueles que completam seu ciclo na zona pelágica (região oceânica habitada por organismos que não dependem do fundo do mar). Essa lacuna limita o entendimento da ecologia desses corpos d’água, entre outros aspectos.
Por que estudar os Camarões?
Além de sua relevância ecológica, os camarões são bioindicadores – espécies que ajudam a medir a saúde dos ecossistemas. Alterações na composição de suas populações podem indicar problemas ambientais, como poluição ou mudanças climáticas.
Embora nosso estudo tenha evidenciado a rica biodiversidade de camarões na Amazônia paraense, é fundamental reforçar a importância da conservação. A exploração predatória e a degradação dos habitats (como o desmatamento, assoreamento, poluição dos rios, mudanças no regime hidrológico, pesca predatória e alterações climáticas que alteram tanto o aumento da temperatura da água como as mudanças nos padrões de chuva), que colocam diversas espécies em risco, precisam ser cuidadosamente avaliadas. Isso permitirá a implementação de políticas públicas e iniciativas de manejo sustentável, essenciais para proteger essa biodiversidade singular. Além disso, preencher as lacunas de conhecimento sobre os camarões amazônicos é fundamental para garantir a segurança alimentar das populações humanas que habitam as áreas costeiras da região. Esses crustáceos representam uma importante fonte de proteína para comunidades tradicionais, que dependem da pesca artesanal para sua subsistência e estão ameaçados pela introdução de espécies exóticas e invasoras.
Nosso estudo é um convite para conhecermos mais sobre os “pequenos gigantes habitantes” dos ecossistemas amazônicos e refletirmos sobre como podemos proteger a biodiversidade que sustenta o planeta.
Ciência se faz com parceria
Esse trabalho foi desenvolvido na Universidade Federal do Pará, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca.
Quer saber mais? Acesse os materiais abaixo!
Bentes et al. (2014) Descrição socioeconômica da pesca do camarão Macrobrachium amazonicum (Heller, 1862) (Decapoda: Palaemonidae) em um estuário da Costa Norte do Brasil: o caso da Ilha de Mosqueiro (PA). Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, 24. (acesse aqui).
Lianos et al. (2018). Checklist of the species of Macrobrachium Spence Bate, 1868 (Decapoda: Caridea: Palaemonidae) from the lower Parnaíba River basin, Piauí, Brazil. Nauplius, 8. (acesse aqui)
Pereira (2023). Percepção do consumidor de camarão no município de Paragominas – PA, durante uma pandemia. Trabalho de Conclusão de Curso em Zootecnia – Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém – PA. (acesse aqui)
Quaresma (2019). Estrutura populacional de camarões Lysmatidae, Palaemonidae, Penaeidae, Sergestidae e Sicyoniidae (Crustacea: Decapoda) em um estuário da Amazônia Oriental e lista de espécies de camarões Decapoda do Estado do Pará. Dissertação – Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca, Universidade Federal do Pará. (acesse aqui)
Sobre as autoras

Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Mestra em Ecologia Aquática e Pesca (UFPA) e doutoranda em Educação em Ciências e Matemáticas (PPGECM) pela UFPA. Saiba mais na Plataforma Lattes ou entre em contato.

Doutorada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Pará, Brasil. Professora Titular da Universidade Federal do Pará, Brasil. Saiba mais na Plataforma Lattes ou entre em contato.
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