Conhecer para cuidar

21 de janeiro de 2021 | Tempo de leitura: 4 minutos

Por Eloisa Beling Loose

O maior bioma do mundo é com frequência noticiado nas mídias nacionais e internacionais. Há uma série de disputas discursivas que o cercam a partir, sobretudo, de interesses econômicos e políticos. A Amazônia não é um assunto desconhecido para a população brasileira – em algum momento, seja pela exuberância, seja pela destruição em grande escala, ouviremos falar dela –, porém o que sabemos é suficiente para cuidá-la? As informações construídas pela imprensa dão conta de relatar aquilo que a maioria das pessoas não consegue experienciar? Como estamos comunicando as conexões entre o bioma amazônico e o dia a dia das pessoas?

          O Observatório de Jornalismo Ambiental, do GPJA/UFRGS, desde 2019, produz análises críticas de mídia sobre temáticas ambientais. Mais do que ampliar e qualificar a ideia do que é meio ambiente, busca-se apontar como o fazer jornalismo está condicionado a certas lógicas e restrições que costumam fragmentar a informação e selecionar espaços de visibilidade a partir de episódios que rompem com aquilo que é visto como normal ou que sejam revestidos de polêmicas. É claro que há diferentes jornalismos, existindo, cada vez mais, profissionais comprometidos com a cobertura ampla, plural e contextualizada dos temas que envolvem a Amazônia e o campo ambiental de forma geral. Contudo, o jornalismo de fácil acesso, gratuito e que facilmente é consumido pela internet ainda encontra barreiras para trazer a realidade e a complexidade que permeia esse espaço de riquezas, conflitos e assimetrias de poder.
Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental da UFRGS.

          Em 2020, nosso Observatório tratou desse bioma sob diferentes enfoques, trazendo bons exemplos de jornalismo ambiental, como quando analisa reportagem sobre os gargalos da bioeconomia, ou refletindo sobre como as relações políticas internacionais geram pressão para outras tomadas de decisão, como foi o caso da posição de Joe Biden sobre a Amazônia nas eleições americanas. Entretanto, apesar da alta atenção midiática dada à floresta amazônica nesse período, por conta das queimadas e do aumento de áreas desmatadas, nossos esforços objetivaram também falar daqueles biomas que sofrem com a devastação, mas são, em certa medida, silenciados pela grande imprensa. Não podemos simplificar a pauta da Amazônia, naturalizar a perda da biodiversidade ou reduzi-la a recurso para manter um crescimento econômico insustentável, mas, ao mesmo tempo, precisamos enquadrá-la como parte de um sistema maior, interdependente.

Embora tenha picos de atenção midiática, a cobertura da Amazônia ainda requer um olhar mais abrangente, que conecte causas e consequências. Créditos: Daniel Alonso-Carriazo (Wikimedia),

          Nesse sentido, cabe aos jornalistas uma visão mais crítica das pautas ambientais, observando “[…] de forma mais panorâmica as causas ou as cadeias de relação que permitiram (e permitem) que o discurso do progresso desmate, queime e altere vidas orientada pela maior ‘oportunidade’ de lucros”. Aos leitores-cidadãos, especialmente nesse contexto de desinformação, sugere-se mais investimento de tempo em fontes sérias e diversas. Para valorizarmos, antes é preciso conhecer. Conhecemos pelas nossas vivências, mas também pelas muitas formas de mediação ofertadas pelo jornalismo. A informação segue sendo um elemento fundamental para sensibilizar e mobilizar. 

Ciência se faz com parceria

          O Observatório de Jornalismo Ambiental é um projeto de extensão vinculado ao Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS), criado em 2008 e coordenado pela professora Dra. Ilza Maria Tourinho Girardi. A Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS e o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS) são parceiros constantes do GPJA.

Quer saber mais? 

Além das críticas de mídia semanais, o GPJA realiza de forma contínua pesquisas na área do jornalismo ambiental. Dentre as últimas publicações estão: 

Novos rumos da cobertura ambiental brasileira: um estudo a partir do Jornal Nacional. (acesse aqui)

A contribuição do princípio da precaução para a epistemologia do Jornalismo Ambiental. (acesse aqui

Dossiê  “Los desafíos de la cobertura ambiental en tiempos de crisis”. (acesse aqui

Recentemente foi lançado, em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria, o “Minimanual para a cobertura jornalística das mudanças climáticas“, voltado para a qualificação do trabalho jornalístico sobre o tema.

Eloisa Beling Loose é jornalista (UFSM), mestre em Comunicação e Informação (UFRGS) e doutora  Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR). Fez pós-doutorado em Comunicação na UFRGS. Atualmente é vice-líder do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) e atua como pesquisadora e consultora, especialmente na área de comunicação e mudanças climáticas. Veja mais na Plataforma LattesLinkedIn e no ResearchGate.

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