Animação explica a contaminação por mercúrio e como evitá-la

23 de setembro de 2021 | Tempo de leitura: 6 minutos

Por Thaís Herrero

Estudos recentes apontam que o mercúrio utilizado em garimpos ilegais na Amazônia estão chegando até os rios e contaminando a água e os peixes. Consequentemente, esse mercúrio chega também à população que se alimenta dos pescados. Mas afinal como o mercúrio age em nosso corpo e por que é tão perigoso? E qual a saída para se alimentar de forma segura? São essas dúvidas que os vídeos da série “Nossos peixes têm mercúrio?” vêm explicar.

As animações mostram José, um menino de uma comunidade de pescadores da Amazônia que está preocupado com a ingestão de peixes. Suas dúvidas são o ponto de partida para que um médico explique toda a cadeia do mercúrio e como podemos evitar a contaminação. Os vídeos também renderam uma história em quadrinhos em alguns capítulos, que podem ser baixadas no site do Instituto Iepé.

Peixe coletado durante pesquisa de contaminação de mercúrio no Amapá. Foto: Acervo Iepé

Usado para a separação do ouro em garimpos ilegais, o mercúrio é um metal líquido que, ao ser descartado nas águas, se agrega ao solo e às plantas. Peixes herbívoros ao se alimentarem dessas plantas se contaminam com o mercúrio e, quando um peixe maior come o peixe contaminado, ingere e acumula o metal também. A cada peixe maior da cadeia alimentar, mais mercúrio é acumulado. É por isso que peixes mais velhos e carnívoros são os que apresentam maiores índices de mercúrio em seu corpo.

No fim dessa cadeia estamos nós, seres humanos, que comemos os peixes. Uma pesquisa publicada em agosto de 2020 revelou que as espécies de pescados mais consumidas no estado do Amapá são também as mais contaminadas por mercúrio.

Todos os peixes analisados apresentaram níveis detectáveis ​​de mercúrio, sendo que 77,6% dos carnívoros excederam o limite aconselhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para consumo humano. O nível mais alto foi detectado no pirapucu (Boulengerella cuvieri), seguido pelo tucunaré (Cichla monoculus) e o traírão (Hoplias aimara). Já entre os onívoros, ou seja, peixes que se alimentam tanto de matéria vegetal como animal, o limite de segurança foi excedido em 20% das amostras e, entre os herbívoros, em 2,4%.

Uma vez que os pescados são a base da alimentação de famílias que vivem na Amazônia, como a de José, o vídeo traz a mensagem de que é possível comer de forma segura desde que controlemos a quantidade e escolhamos peixes menores e herbívoros.

Pescador em busca dos peixes para pesquisa sobre contaminação de mercúrio nas espécies mais consumidas no Amapá. Foto: Acervo Iepé

Solução a partir da alimentação

A série “Nossos peixes têm mercúrio?” tem como objetivo informar de forma didática e, por isso, traz a lista de peixes mais indicados e que podem ser comidos todos os dias de forma segura: arraia, aracu, pacu, acari, sarda, branquinha, tainha e pirapitinga. E, também, dos menos indicados, por serem carnívoros, como pirarucu, piranha, tucunaré, trairão e mandubé. Os médicos sugerem que esses peixes sejam consumidos apenas uma vez por semana em pedaços de 200 gramas. E acompanhados de uma dieta variada e saudável, com frutas, legumes e verduras.

Essas dicas estão presentes na parte 2 da animação “Peixes seguros e alimentação variada” (veja abaixo).

Riscos para a saúde

Para adultos em geral, a contaminação por mercúrio pode acarretar em dores de cabeça, tremores, visão reduzida, problemas de coração e cansaço, além de trazer problemas para o sono e a memória. No caso de mulheres grávidas, é ainda mais grave. Elas podem enfrentar dificuldades na gestação e ter má formação do feto. Crianças com excesso de mercúrio costumam apresentar dificuldade de memória e para falar e aprender.

Trabalhos durante a pesquisa de peixes e contaminação por mercúrio no Amapá. Foto: Acervo Iepé

Problema do garimpo

O garimpo, responsável pelo uso indiscriminado do mercúrio, além de ser uma atividade ilegal, expõe à contaminação comunidades tradicionais que dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência, afetando adversamente a saúde das comunidades ribeirinhas e particularmente os indígenas, como é visto no estudo sobre a índices do metal em peixes do Amapá. Para muitas dessas comunidades, o peixe é a principal, quando não a única fonte de proteína, presentes em muitas refeições.

Os vídeos complementam as pesquisas atuais e têm como missão chegar em comunidades, disseminando de forma simples e didática as informações sobre os riscos que o mercúrio traz à nossa saúde. Na dúvida, como diz José, é sempre bom procurar um profissional de saúde.

Ciência se faz com parceria

As três animações da série Nossos peixes têm mercúrio? foram produzidas pela Frankfurt Zoological Society do Peru (FZS Peru) e traduzidas e adaptadas pelo Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e pela Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP-Fiocruz).

Já as coletas de peixes no Amapá, foram realizadas pelo Iepé, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (IEPA) e World Wide Fund for Nature (WWF) e analisada com ajuda da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Quer saber mais? Acesse os materiais abaixo!

Estudo EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO PELO CONSUMO DE PEIXES: O potencial impacto à saúde das populações locais e economia pesqueira do Amapá foi publicado na Revista Internacional de Pesquisa Ambiental e Saúde Pública. (acesse aqui)

Povos da Amazônia assinam carta contra o garimpo ilegal. (acesse aqui)

Jornal do Amapá 2ª Edição | Estudo identifica alto nível de mercúrio em centenas de peixes coletados em rios do Amapá. (acesse aqui)

Jornal do Amapá 1ª Edição | Histórias animadas alertam para a contaminação de peixes por mercúrio na Amazônia (acesse aqui)

Thaís Herrero é jornalista formada pela Universidade de São Paulo, especializada em meio ambiente e comunicação de causas. Atualmente é assessora de comunicação do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena – Iepé.

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