Mapeando os sedimentos dos rios e lagos das planícies amazônicas a partir do espaço
11 de dezembro de 2020 | Tempo de leitura: 6 minutos
Por Alice Fassoni-Andrade
A bacia do rio Amazonas representa a maior e a mais complexa rede de rios do mundo. Quatro dos dez maiores rios do mundo estão localizados nesta bacia. O rio Amazonas é o maior deles e também é o rio que exporta a maior carga de sedimentos para o oceano Atlântico. Essa grande concentração de sedimentos é determinante para a dinâmica dos rios amazônicos, tem grande importância para a distribuição e riqueza de espécies da fauna e da flora e também para a fertilidade do solo observada nas planícies de inundação amazônicas. No entanto, as características dos rios amazônicos são diversas, como tudo na Amazônia. O rio Negro, por exemplo, tem baixíssimas concentrações de sedimentos e uma coloração escura, como um chá preto, enquanto as águas dos rios Tapajós e Xingu são claras, com um tom esverdeado. Por outro lado, a alta concentração de sedimentos faz de rios como o Solimões terem águas bastante turvas (veja na foto abaixo o contraste da cor da água dos rios Negro e Solimões na região de Manaus). Mais informações sobre tipos de água na bacia amazônica podem ser vistas nesta matéria.
Encontro das águas, onde as águas dos rios Negro e Solimões se encontram. Manaus, Amazonas Brasil. Foto: Alice Fassoni-Andrade.
Devido à grande extensão e à limitação de acesso a determinadas áreas na Amazônia, é difícil avaliar os padrões espaciais e temporais de concentração de sedimentos com dados coletados no campo. O sensoriamento remoto se torna uma alternativa interessante diante da grande quantidade de dados que pode ser extraída das imagens feitas por satélites. No estudo Mapeamento da dinâmica espaço-temporal de sedimentos nos rios e planícies de inundação da Amazônia, utilizamos imagens do satélite MODIS para avaliar esses padrões de concentração de sedimentos durante 15 anos (2003 a 2017) e criar mapas que sintetizam esses padrões, como o da figura abaixo.
Analisamos a concentração de sedimentos em suspensão (ou seja, sedimentos que não estão no fundo do rio) em diferentes rios e lagos da Amazônia central. Na figura abaixo, a mistura das cores azul, verde e vermelho representa a fração do tempo em que cada ponto do mapa pertence a uma de concentração de sedimentos: alta (vermelha), moderada (verde) ou baixa (azul). Por exemplo, um ponto amarelo (mistura do vermelho e verde) permanece aproximadamente 50% do tempo na classe alta de concentração de sedimentos e 50% do tempo na classe moderada. Este mapa facilita a interpretação da variação de sedimentos no tempo e no espaço e contribui para o melhor entendimento do funcionamento desse sistema (baixe o mapa aqui).
Na figura acima, mostramos em mais detalhes o rio Japurá, que muda de cor (do verde para o amarelo) após a confluência com o paraná do Aranapu. Isso significa que, durante um período do ano, esse trecho em amarelo recebe sedimentos do rio Solimões através do paraná do Aranapu. Informações como estas são fundamentais para uma melhor compreensão da dinâmica das planícies de inundação amazônicas. Você consegue imaginar como faríamos essa análise com dados coletados no campo?
Ciência se faz em parceria
Os resultados apresentados neste texto são parte da pesquisa realizada por Alice Fassoni-Andrade durante o curso de doutorado no Programa de Pós Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A orientação foi de Rodrigo Paiva. Esta pesquisa contou com o apoio financeiro do governo federal através de uma bolsa de doutorado CNPq. (acesse os mapas apresentados aqui)
Quer saber mais? Acesse os materiais abaixo!
Fassoni-Andrade, A. C., Paiva, R. (2019). “Mapping spatial-temporal sediment dynamics of river-floodplains in the Amazon.” Remote Sensing of Environment, 221, 94-107. (acesse aqui)
Fassoni-Andrade, A. C. (2020). Mapeamento e caracterização do sistema rio-planície da Amazônia central via sensoriamento remoto e modelagem hidráulica. Tese de doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Programa de Pós-Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental. (acesse aqui)
Zolnerkevic, I. (2014). O passado remoto de um grande rio. Pesquisa FAPESP, edição 223. (acesse aqui)
Alice Fassoni-Andrade é engenheira ambiental (UFV), mestre em sensoriamento remoto e doutora em recursos hídricos e saneamento ambiental (UFRGS). Veja mais na Plataforma Lattes e ResearchGate.